Problema é comum entre parentes de dependentes químicos que acabam anulando a própria vida em função do dependente
A mãe de um dependente químico tranca o filho em casa. Para impedir que o rapaz saia, ela mesma vai até o traficante buscar drogas. A situação dura alguns dias, até que ele decide sair para fazer sexo.
Desesperada, com medo de que o filho desapareça ou seja morto, ela oferece o próprio corpo para evitar que ele vá até a rua.
Esta foi uma das histórias dramáticas relatadas pela assistente social do Caps ad II (Centro de Referência Psicossocial Álcool e Drogas) de Araçatuba, Clélia Aparecida Mari Pecini, durante um treinamento sobre um problema grave, mas ainda pouco discutido entre os profissionais de saúde envolvidos no atendimento de dependentes químicos e suas famílias: a codependência.
A palestra foi ministrada nesta terça-feira (27), e reuniu psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros e outros profissionais que pertencem à DIR (Direção Regional de Saúde) de Araçatuba, que reúne 42 municípios, além de familiares de pacientes do Caps ad II. Ao todo, cerca de 40 pessoas assistiram ao treinamento.
Codependência é um termo usado para se referir a pessoas fortemente ligadas a um dependente de substâncias químicas (álcool ou drogas), que acaba anulando a própria vida em função desse dependente.
Segundo Clélia, o problema pode acontecer em qualquer relacionamento, porém é mais comum entre pais e filhos e também dentro de relacionamentos afetivos, quando o dependente é marido, esposa ou namorado (a).
“O codependente acredita que pode livrar o dependente químico do vício, que pode salvá-lo! Para isso, acaba anulando a própria vida e vivendo em função desse dependente”, afirma.
A assistente social explica que o codepentente costuma ser uma pessoa com baixa autoestima e que encontra na relação com o dependente, uma razão para viver. Essa pessoa acaba desenvolvendo problemas psiquiátricos como a depressão, além de psicossomáticos.
“É muito comum o codependente apresentar dores de cabeça, dores nas costas e problemas gastrointestinais”, afirma.
O treinamento é importante para ajudar os profissionais de saúde que trabalham com dependentes químicos a identificarem casos de codependência e encaminharem essas pessoas para tratamento, que é feito por meio de terapia em grupo e, em alguns casos, acompanhamento psiquiátrico e medicamentos como antidepressivos e ansiolíticos.
Ainda de acordo com a assistente social, o primeiro passo para a cura da codependência é a pessoa assumir que também tem um problema e precisa de ajuda.
Em segundo lugar, descobrir que não pode deixar de viver a própria vida para viver a vida de outra pessoa, por mais que a ame. Afinal, isso não ajuda o dependente a assumir as responsabilidades por seus atos e procurar tratamento.
Quando a codependência não é identificada, as situações ficam cada vez mais extremas e dramáticas, como no caso relatado durante a palestra. “É uma história triste, mas verdadeira. Quando a mãe chegou a esse ponto, o rapaz percebeu o quanto a mãe estava doente e os dois procuraram ajuda”, conta Clélia.
Em Araçatuba, dependentes químicos e familiares que precisam de tratamento e orientação podem procurar o Caps ad II, que fica na rua Bastos Cordeiro, 1051, no bairro Santana. O telefone é 3441-2091.